Giroflexxx_Exposição coletiva _Galeria Vermelho_ 2003

 

Memória –    “giroflexxx” . Por  Mara Gama – Galeria Vermelho, SP. 2003

 

André Komatsu parece mostrar em “Giroflexxxx” três etapas de uma idéia. Sobre plantas de casas, que corrói com ácido, ele risca depois com lâmina ou ponta seca e constrói imagens de extrema dramaticidade. O artista desenha sobre a memória, o documento, o projeto, a “idéia” de casa planejada. Sua intervenção nas plantas tem um quê de brincadeira. Coloca nelas móveis desenhados à mão, esqueletos, “gentes” dentro dos cômodos ou fora deles, como se não soubesse que o plano de visão da planta é aéreo e seus objetos estão num outro “layer” espacial. 

Além de sobrepor ao plano da planta um outro plano que confunde e um pouco caçoa da leitura do
fundo, ele sobrepõe também dois traços, duas linguagens. A linguagem que está registrada no suporte é a da padronização da expressão de uma idéia. É um registro de um desejo, já “materializado” em cálculo e tornado representação. Um código que deve ser entendido por todos. O traço que o artista impõe sobre o plano calculado é, ao contrário, algo completamente particular, e impossível de ser “compreendido” por todos. É gesto firme pelo que aprofunda no papel, e ao mesmo tempo é construído de ensaios de desenho, é inacabado, feito de linhas abandonadas que apenas sugerem a continuidade de certos  contornos. 

Quando se lança no papel em branco, Komatsu se entrega ao seu próprio “plano”, com lápis e óleo,
materializando algo que se imagina. O resultado é desenho delicado, preciso, poético. Quando se torna objeto e é, enfim, construída, a casa revela, dentro dela, escombros de outras casas de verdade, restos.

Mara Gama, 2003

 

Mais: Galeria Vermelho