Dividir, diminuir, ramos e multiplicar_Carlos Mélo_2007

…dividir, diminuir, ramos e multiplicar…

                                                                 Os narradores nollianos possuem uma espécie de “corpo sombreado”, ou seja, mesmo que se saibam mutilados, deambulam pelas cidades com se ainda possuíssem os pedaços que faltam. Por isso conservam um “repertório de imagens”, de estereótipos que anunciam, continuamente, a cadeia de vocábulos e atos repetitivos.

                                                                                (SENNETT. Op. cit., p. 225)

Uma reta de mil metros com uma curva  na ponta, entra no lado esquerdo de dois muros, voltados pra parte interna de um fosso de três metros de profundidade, que dá para um dos quartos, cada um, com portas gigantescas e  janelas que dão pro lado de dentro da casa a quinze centímetros do chão.

Da sala, dá pra ver no final do corredor, um piso com dois palmos de altura, mais uma polegada e três passos até chegar numa base onde sai uma escada, sem degraus, que afunda chão adentro e se encerra nela mesma. Se a parede sobe junto ao piso alcançam o primeiro andar, ambos cobrem um teto que se abre para as mesmas janelas que dão pro jardim, é possível dobrar a porta do porão e empurrar o muro modificando o espaço do lado da casa, quase que invadindo um terreno ao lado, acho que de uma fábrica ou um hospital, não sei…

Noves fora cinco, ou quatro operações

1.um corpo que o braço é um martelo e os olhos são placas de vidro, cuja parte de trás da perna não dobra, mas é ajustável por um mecanismo de madeira e rolimãs que o permite arrastar-se com desenvoltura. Os dedos e os cabelos são do mesmo material do teto da casa, uma espécie de ímãs revestidos com borracha.

1.ao se colocarem na rua, seu lugar de origem, o corpo e a casa, se confundem com uma paisagem que é uma espécie de espelho, desses que alteram as dimensões da imagem, essa imagem é projetada numa malha esticada  forrando a terra e  sufocado-a. A violência do tecido/sentido, pressiona o chão deixado-o inchado, pulsante, prestes a explodir. E quando explode, a cidade continua, torta, quebrada e estruturada a partir de rachaduras que a redesenham.

1. o corpo, desmontando-se no chão se arrasta até a avenida, como um móvel de madeira montando-se e desmontando-se pela cidade (digo de cal e éter), levando a casa nas costas e arranhando a rua.

1. uma espécie de suspensão frente às certezas do artista que autoriza a fragmentação dos restos úteis e os recoloca na paisagem, usa de uma ‘composiçao’ que nos move como um detalhe ampliado. Pois, o detalhe passa a forçar uma composição mole, porque há fumaça e lama, e como fôrmas incompletas, recebem a massa acrílica de uma avenida que se alarga até o fim do corredor da casa suspensa.

somar: no trabalho de André komatsu, o peso sobre o solo não se calcula em números, nem em pensamentos e palavras sobre balanças, mas, na ‘sub-tração’ da carne, na ciência do espaço e no questionamento da pedra.

Carlos Mélo, 2007

 

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