MutualArt_2020_ Galeria Anton Kern

Outro Brasil: como os artistas contam uma história muito diferente do país
Lea Marianna Ficca / MutualArt 7 DE ABRIL DE 2020
Três exposições que exibiram uma infinidade de arte brasileira nos últimos meses mostraram como a percepção do país sul-americano difere bastante de muitos de seus habitantes no cotidiano.

A arte está sempre relacionada a uma história, mesmo quando a conexão às vezes não é rastreável à primeira vista. Mas existem algumas histórias que marcaram profundamente as pessoas e sua personalidade, mais do que outras. Eventos políticos, questões sociais, privação de liberdade e desigualdades econômicas são assuntos que sempre caracterizaram a observação de artistas, especialmente em áreas geográficas particulares do mundo. Esse também é o caso dos artistas brasileiros, cujo trabalho se concentra no amor pelo belo país, mas também na abundância de contradições no Brasil.

Durante vinte anos, a partir de 1964, o Brasil foi escravizado por um governo militar. O regime ditatorial levou o país a ciclos cada vez mais profundos de atos repressivos contra a população, suprimindo os direitos civis e humanos e todas as formas de expressão, incluindo a arte.

Esse foi o ponto de partida de um movimento que, após o estabelecimento da nova democracia nos anos 80, conectou todos os artistas brasileiros, que a partir de então se engajaram em um protesto contra o antigo regime autoritário e, às vezes, o compararam às suas condições atuais.

Entre o final de 2019 e o início de 2020, galerias e museus em várias cidades tiveram como objetivo pesquisar a arte contemporânea do Brasil através de várias exposições, expondo um terreno comum que liga esses artistas a vários meios, como pintura, escultura, fotografia, instalação, videoarte e intervenção espacial. Entre as exposições, destacaram-se três exposições coletivas, realizadas pela Galeria Anton Kern, pela Galeria Marian Ibrahim e pelo Museu Ettore Fico.

A galeria nova-iorquina de Anton Kern mostrou uma exposição, chamada Samba in the Dark, entre meados de janeiro e meados de fevereiro, onde apresentou uma ampla seleção de arte de vinte e quatro artistas brasileiros, estabelecidos e emergentes. O título se referia a uma famosa canção brasileira escrita em 1970 por Chico Buarque, Apesar de Voce. Como na música, as obras exibidas falam sobre liberdade e protesto do governo, e todos os tipos de ditaduras. A enorme quantidade de obras levou o visitante a uma jornada imaginária pela atmosfera animada e multicolorida do Brasil, que, por outro lado, esconde um lado sombrio.

Essa contradição foi sublinhada, como indicado pelo título, pela presença de estilos muito diferentes de obras de arte que revelam as duas almas do país., As pinturas e esculturas do avaf coletivo (assumem foco astro vívido), por exemplo, preenchem o espaço com uma explosão de cores brilhantes e vibrantes. A dupla brasileira conversou com a sala através de duas grandes pinturas e três telas flutuantes suspensas, onde a abstração do cromatismo vívido lembrava um dos carnavais e festividades brasileiras. As pinturas invocam as alegres almas das pessoas e o espírito festivo das cidades brasileiras, que incorporam a associação mais comum do mundo de sua cultura.

No entanto, a Galeria justapôs essas obras a outros aspectos da cultura brasileira, representados na mostra por artistas como Cildo Meireles, Clarissa Tossin e outros. Na instalação O Peso do Regime, rede de algodão, ganchos de concreto e aço, realizada por Marcelo Cidade e André Komatsu, é óbvia a referência às questões sociopolíticas que afetaram o Brasil durante seu regime repressivo. Um objeto macio e confortável, como uma rede, é usado para carregar uma pedra pesada, uma metáfora dos movimentos populares de resistência, que precisavam enfrentar o governo. Este trabalho é poético e dramático, minimalista e emocional, um símbolo do trágico esforço da população para sobreviver, apesar do poder do regime.

Em Chicago, a exposição da Marian Ibrahim Gallery, A descoberta do que significa ser brasileiro, girou em torno da identidade e do elo entre o presente e o patrimônio cultural. A galeria optou por apresentar um pequeno grupo de jovens artistas: Eder Oliveira, Jaimie Lauriano, Aline Motta, No Martins e Tiago Sant’Ana, todos nascidos entre 1974 e 1990.

Embora esses artistas sejam muito diferentes um do outro, eles estão conectados pela investigação de vários aspectos de sua cultura, especialmente a condição