Colapso_Group show_Galeria Gentil Carioca_2013

A ideia da exposição é discutir o conceito de falha presente nas obras de André Komatsu,
Marcelo Cidade, Guga Ferraz e Alexandre Vogler especialmente concebidas para essa
exposição. A falha pode se instaurar tanto na aparição de uma obra que deu errado ou que
não correspondeu ao anseio original do artista. A falha pode ser o princípio norteador da
obra (e aí aproximar-se por exemplo de outros conceitos como ironia ou violência). Pode
inclusive não corresponder a uma espécie de desejo coletivo do público a respeito do
significado daquela obra (o quanto ela pode subverter as ideias de belo ou empatia), ou
ainda evocar temas mais específicos, tais como a política e suas estruturas de poder.
Há algo nas obras desses artistas que evoca uma necessidade de desestabilizar o
espectador e suas convicções ideológicas. Tornar o mundo mais suscetível à crítica,
permitir que o nosso olhar esteja mais atento a estruturas (políticas, sociais, econômicas)
que invisivelmente corrompem pouco a pouco a nossa percepção de mundo. Há um dado
em especial que também conecta esses artistas que é o fato das duas cidades – Rio de
Janeiro e São Paulo – nos quais eles moram estarem passando por um processo de
gentrificação, e em particular os seus Centros e bairros de classe média, que se tornaram
bolhas imobiliárias. Ainda no aspecto político, a falha pode ser evocada nos inúmeros
discursos que surgem a respeito do fenômeno das feiras de arte. Recentemente, o jornal O
Globo publicou uma matéria em que entrevistava alguns galeristas que participaram da
edição 2012 da Art Rio. Alguns deles disseram que o público, especialmente no último
dia, teria se comportado de forma selvagem, subindo em esculturas e tocando em obras
onde essa permissão não teria sido concedida. Em contraponto, a feira bateu o seu
recorde de público e teria tido um alto volume de vendas. Em menos de 4 dias, as feiras
de arte no Brasil parecem movimentar um público que poucos museus no país
conseguiriam ter em 6 meses. Não se sabe ao certo o que as pessoas procuram e/ou
compram. Mas é interessante perceber que como a cidade é tema e símbolo nas obras dos
quatro artistas. Muitas vezes tocando em engrenagens não tão perceptíveis ao “olho nu”.
E mais do que isso que em vários momentos seja a representação de processos
construtivos e de edificações, no caso de Cidade, Ferraz e Komatsu, ou de ligações
políticas e/ou religiosas com a urbe no caso de Vogler há indícios de ruínas e a ideia de
desconstrução. Seja no recolhimento de entulho ou material de construção no caso de
Komatsu ou da imagem de indivíduos dominados e subjugados no caso de Ferraz, para
citar alguns exemplos, os artistas atribuem novas funções ao que era rejeitado, seja para
empregá-los na produção de objetos e instalações, seja para tomá-los como suporte de
uma ideia assumidamente libertária. São panoramas e ideias que habitam em maior ou
menor grau as obras dos artistas em questão.
Os quatro artistas possuem suportes e poéticas semelhantes, e quando colocadas em
vizinhança passam a ter uma contaminação inevitável. Há um discurso sobre as ideias de
colapso e ruína que sobrevoa as obras desses artistas. Contextos e circunstâncias tornam-
se visíveis e constroem uma rede de sentidos que desemboca em uma discussão sobre a
ideia de falha na contemporaneidade. A discussão sobre falha ou colapso na obra desses
artistas de forma alguma pressupõe uma ideia de fim da arte, mas afirma especialmente
uma visão política e ideológica do mundo, sem ser panfletária. É falar das engrenagens de
poder de uma maneira bem pontual. Por outro lado, não há uma clara definição de lugar

em seus trabalhos, mas a transparência de uma falência de mundo, o que novamente não
impõe necessariamente uma ideia niilista às obras deles. É como se as obras desses
quatro artistas fossem um sussurro intermitente.

Felipe Scovino

2014